sábado, 23 de julho de 2016

Resenha - O Árabe do Futuro

O árabe do futuro
O Árabe do Futuro
Riad Sattouf
Livro cedido pela editora
Número de páginas: 160
Editora: Intrínseca
Classificação: 
Sinopse: Nascido na França em 1978, filho de pai sírio e mãe bretã, Riad Sattouf viveu uma infância peculiar. Ele tinha apenas três anos quando o pai recebeu um convite para lecionar em uma universidade da Líbia. Em Trípoli, o menino entrou em contato com uma cultura completamente distinta e precisou superar o estranhamento diante de novos costumes — experiência que se repetiria pouco depois na Síria, quando o pai foi trabalhar lá.
Com o olhar inocente de uma criança, Riad oferece um importante relato sobre os contrastes entre a vida plácida na França socialista de Mitterrand e os regimes autoritários na Líbia de Kadafi e na Síria de Hafez al-Assad. A partir de suas próprias lembranças e sensações, o autor descreve como foi adaptar-se a realidades tão díspares e mostra detalhes de sua vida em família e da relação com outras crianças.
O árabe do futuro é um relato literário pleno em forma de graphic novel: com traço simples e narrativa fluida e descontraída, Riad fornece ao mesmo tempo uma análise antropológica do embate entre o Ocidente e o mundo árabe e um autorretrato de sua própria infância plural.

Estava muito curiosa quanto a leitura dessa graphic novel, admito que sou meio novata nesse mundo de graphics por isso estou super disposta a ler todas as que conseguir. Mas essa me chamou a atenção por ter esse foco em personagens de descendência árabe. Havia lido a pouco tempo a graphic iraniana Persepólis e gostei muito, por se tratar também de uma autobiografia em formato de novela gráfica "O árabe do futuro" entrou na minha lista de desejados, e tenho que dizer que conseguiu atingir minhas expectativas. Vamos a resenha?


Como já disse antes, O Árabe do Futuro é uma graphic novel biográfica, ela acompanha os primeiros anos de Riad Sattouf. Nascido na França filho de uma mãe francesa nascida na Bretanha e de um pai árabe imigrante de uma pequena aldeia síria, Riad possui caracteristicas físicas muito diferentes daquelas da familia de seu pai, Abdel-Razak Sattouf, seus cabelos encaracolados e loiros são motivos constantes de adulações e carinhos por parte de todos os adultos que encontra. Essa é uma graphic biográfica, com foco no próprio Riad, mas a história desse primeiro volume é quase inteiramente voltada para seu pai, Abdel. Riad como todo menino vê em seu pai um grande herói e com isso vamos acompanhando toda a ideologia e as crenças que Abdel passa para Riad.
Na graphic acompanhamos todos os momentos da vida de Riad, inclusive aqueles em que ele ainda não estava presente, como a maneira como seus pais se conheceram e como vieram a ficar juntos. Todos os momentos da história são regados de ironia e muitas situações cômicas são apresentadas ao leitor. Ao longo da infância de Riad a familia se desloca entre França, Líbia e Síria sempre motivados pela vontade de seu pai de manter a familia ligada a cultura e aos costumes sírios e por suas opiniões politicas. Abdel acredita numa nova forma de ser árabe, é contra o forte fanatismo e a favor da educação e do avanço do povo muçulmano na modernidade, mas obviamente carrega consigo muito preconceitos e caracteristicas culturais questionáveis para nós ocidentais. 




O mais interessante neste primeiro volume é a maneira como o olhar infantil de Riad reage as situações tensas e muitas vezes hostis em que ele e a familia são colocados quando inseridos no ambiente Sírio. Seu pai possui vários momentos de hipocrisia e propaga muitas vezes discursos questionáveis mas ainda assim através dos olhos do autor e da inocência infantil conseguimos enxergar esses momentos mais de maneira cômica, como chacota, do que de maneira ofensiva.
A maneira como o quadrinista utiliza as cores ao longo da graphic também é bastante interessante. Com a paleta quase monocromática ele acompanha as cores das bandeiras dos locais para onde a familia se desloca e escolhe uma delas para elencar os capítulos onde os personagens se encontram. Os traços são simples porém claros, o foco é total na história desenvolvida, não dando espaço para páginas com ilustrações muito elaboradas.


Essa é uma graphic que em alguns momentos pode trazer indignação ao leitor, mas a forma como o autor traz o humor consegue fazer com que entendamos que são fatores culturais que causam essa estranheza. Riad Sattouf é ex-colaborador do controverso jornal francês Charlie Hebdo e tem em sua bagagem o humor acido e irônico que percebemos ao longo de "O Árabe do Futuro". A Intrínseca deu um tiro certeiro ao trazer a obra para o Brasil e espero em breve ter a oportunidade de ler os demais volumes dessa história.

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