terça-feira, 20 de outubro de 2015

Resenha - Meninos, eu conto

Meninos, eu conto
Antonio Torres
Livro cedido pela editora
Número de páginas: 78
Editora: Galera Record - Junior
Classificação: ★★★★★ 
Sinopse: O livro retrata um Brasil ainda atual, repleto de gente simples e personagens inesquecíveis. Para os fãs de Auto da compadecida e outros clássicos. Os contos reunidos neste livro contam as dores do crescimento, os conflitos e os sonhos de adolescentes muito parecidos com o menino que o próprio Antônio Torres foi um dia, quando morava no interior da Bahia, na cidade de Junco.

Esse é um livro de contos, vamos começar a resenha a partir desse ponto. Partindo desse presuposto já esperamos por histórias curtas. Mas fui surpreendida por Antonio Torres, sua histórias não são apenas curtas, elas são prolixas, diretas, e com poucas palavras nos levam para uma realidade diferente da que estamos acostumados, e consegue colocar o dedo na ferida. Em menos de meia hora de leitura o livro foi capaz de me fazer pensar em diversas coisas e também me fez repensar alguns conceitos e preconceitos. Vamos ver sobre o que trata o livro?


São três os contos narrados do ponto de vista de três garotos diferentes. O ponto em comum entre todos eles é o local e a vida que levam. Os três meninos são residentes de uma cidade do interior, o autor fala no prologo que esse é um lugar esquecido nos confins do tempo, num mundo interiorano onde não chegou ainda a tecnologia. O próprio autor diz que nasceu em um lugar assim então podemos perceber que existe muito dele e de sua experiencia na infância nesse livro. 




Os meninos são moleques, e como qualquer moleque, eles aprontam, não são contos com histórias muito cheias de grandes acontecimentos, mas sim histórias que tratam de pequenos fatos com desenvoltura, de maneira a transportar o leitor a aquela realidade, da roça, do trabalho e da pequena cidade de matutos onde os meninos vivem. Vou falar brevemente sobre cada um dos três contos:


Segundo Nego do Roseno: Nesse conto, que é um dos menores do livro, acompanhamos um menino que já amuado por ter que voltar para casa, ganha de presente umas moedas do padre que visitava a cidade. Ele se sente muito importante e decide comprar com seu próprio dinheiro alguns pães e uma camisa nova. Mas quando chega em casa seu pai não gosta nada de ele ter comprado a camisa, e pede que a devolva e peça o dinheiro de volta. Esse conto trata principalmente da moral, ele também nos mostra como algumas coisas bobas podem ser importante para uma criança. Para o menino a camisa era algo novo, algo que ele nunca teve mas sempre desejou, para seu pai é um item superfulo, de segunda necessidade. Podemos perceber também a hierarquia familia, com o pai que manda e o filho que busca a aprovação. O desenrolar do conto é bem interessante, mas obvio que não vou contar para vocês! rs


Por um pé de feijão: Nesse conto acompanhamos um menino que deixa de ir a uma temporada na escola para ajudar a família na colheita do feijão, um dos principais sustentos da casa. Quando chega a escola sua professora diz que por conta disso ele pode até perder o ano, mas ele não dá importância, se sente feliz por ajudar na roça. Mas uma coisa horrível acontece, a colheita, como que sem motivo nenhum, incendeia, e perdem-se todos os feijões da temporada. Nesse conto percebemos como a realidade é dura para essas pessoas, uma boa colheita é sinal de comida na mesa todos os dias durante a época do plantio. Acompanhamos o drama que é essa duvida, a de que se haverá algum dia em que a família não poderá se alimentar. Mas esse conto também nos fala de perseverança e esperança, e nos mostra que esse povo que tanto sofre continua na luta apesar das intempéries. 


O dia de São Nunca: Nesse conto somos levados para a casa de um menino que possui uma deficiência física, ele não pode andar. Em uma de suas tardes sozinho em casa enquanto a mãe trabalha ele recebe a visita de três jovens que claramente não pertencem a cidade, nessa visita algo é levado da casa, e ao decorrer das páginas acompanhamos o alvoroço que um pequeno roubo causa na cidade. Algumas pessoas inventam coisas, fala-se até de disco voador! Esse foi o conto que mais gostei no livro, nele podemos perceber claramente a inocência e a ignorância dessas pessoas, ignorância não no sentido da falta de saber, mas da falta de conhecimento de mundo, elas não conhecem nada além daquele lugar onde moram, e ignoram que as pessoas das outras cidades do país seja diferente deles. O menino desse conto também é o que tem um personalidade mais forte, ele tenta se impor meso com sua deficiência, que o torna um párea para aquele lugar que exige que os homens sejam saudáveis para a lavoura.


O livro é bastante curto e como já disse antes, o li em 30 minutos, é uma leitura rápida e leve. A diagramação é ótima, bem espaçada e as letras são grandes. O livro possui algumas ilustrações que caem muito bem com os contos, é uma edição muito bonita, gostei bastante da capa e das cores delas.
Como já foi dito é um livro curto mas capaz de nos fazer refletir, com leveza somos levados a conhecer um povo sofrido que vive numa realidade inimaginável para nós que vivemos em grande cidades e recebemos informações a todo o momento. É muito fácil para essa gente se apegar a religião e aos valores morais, pois para eles é tudo que existe. Indico fortemente a leitura para aqueles que querem pensar um pouco a respeito da realidade interiorana que existe em nosso pais mas que se mantem sublimada pelo descaso e desinteresse.


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